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Génese

Liberdade de Opinião.

Génese

Liberdade de Opinião.

O Fim

               Que venha ele. Estou esgotado. Prestes a atingir o ponto de saturação. Mas não o posso atingir, é pouco ético da minha parte.

                Há que ter calma e aguentar mais umas cinco horinhas.

                Devem ter sido uns oito meses, descontando as férias do natal e páscoa.

                Sim, estou a falar da escola. Do fim das aulas.

                Oito meses a acordar à mesma hora: alguns minutos para lá das sete e vinte. Olhos abertos, mas teimosos em tentar fecharem-se. Mas lá tinha de ser! Tomar o pequeno almoço, apanhar o autocarro, (com um veemente "Bom dia" pelo meio dirigido à motorista do autocarro - até isto é monótono. Mesma mulher, mesmo autocarro. Todos os dias.) E entrar nas aulas, cerca de oito e meia.

                Acordar; tomar o pequeno almoço; apanhar o autocarro; entrar nas aulas. E assim sucessivamente.

                Pois bem: amanhã será o último dia em que vou fazer isto. Não é que nos dias que virão não tome o pequeno almoço, não acorde, não ande de autocarro, mas será o último dia em que vou fazer isto com o objetivo de ir para a escola.

                E sabe-me bem saber isto.

                Já dizia o cineasta Manoel de Oliveira (curvem-se) que não tinha, ou não tem, medo da morte, mas sim da vida. Porquê? Porque é na vida que se encontram os perigos, os males, as tragédias, as invejas, etc.

                E eu não só concordo com ele - permitam-me esta confiança ao ponto da utilização da terceira pessoa do singular - como entendo que a morte, neste caso, é o fim das aulas; e a vida, por outro lado, representa a escola em tempo de aulas.

                Porquê, pergutam vocês. É simples: é na escola - na vida, portanto, - que se situam os perigos, os males, as invejas, os maus caráteres, as faltas de valores, etc.

                E é por isto que, no início, referi que estava a atingir o ponto de saturação.

                Infelizmente, na minha turma, as pessoas - a maior parte delas - sofrem de algumas deficiências ao nível do seu caráter, dos seus valores. E com isto não digo que eu sou melhor do que eles, é apenas o que eu sinto. Estou cansado deles.

                Sabe-me bem, então, o fim das aulas. Sabe-me bem o fim da monotonia. Sabe-me bem, por uma questão de lógica, a morte. Nem que esta seja apenas por três meses.

                É uma espécie de coma induzido pelo Ministério da Educação, e estou-lhes grato. Bem, no meu caso seria mais uma eutanásia, visto que ando a pedir a todos os santinhos a morte o mais rápido possível. (E aqui, leia-se, o fim da escola. Não sou nenhum daqueles jovens com intentos homicídas e/ou suicídas!)